domingo, 6 de maio de 2012

Uma luz na escuridão


Este foi um daqueles dias. Um daqueles dias nos quais acordo e não tenho vontade de levantar da cama. Quando percebo que não quero respirar, porque viver é uma incessante luta contra a infelicidade. Difícil descrever, mas nestes dias, a felicidade parece tão distante... É como se eu visse o mundo e não o sentisse. Quisesse acreditar que há uma esperança, mas simplesmente nada mais me trouxesse forças para continuar a caminhada. Uma vontade de largar tudo para trás e de destruir tudo. Um desejo horrível de que meu coração pare. Uma solidão inevitável. Uma vontade de morrer... Uma vontade de sentir dor para que tudo passe.

De repente percebo que estou caindo de novo naquele buraco vazio e sem fundo. Um buraco do qual demorei alguns anos para sair de dentro. Algo como um poço profundo com paredes lisas pelas quais é quase impossível subir. Um lodo negro me mancha o corpo e suga minhas energias. Mesmo que haja uma corda pendurada e pessoas querendo me puxar para fora, é como se ele me sugasse para dentro. Como se fosse impossível de ser curado...

E neste dia, assim como em todos os outros nos quais a tristeza me afunda, eu senti solidão.

Teria ficado de cama o dia inteiro se não fosse por ela.

⎯ Bom dia! ⎯ ouvi sua voz alegre conforme adentrava meu quarto. Alissa já pegara o costume de parar de bater na porta quando eu dormia tempo demais. O que ela não sabia era que, quando eu dormia tempo demais, era porque eu realmente não estava bem... Tive que limpar rapidamente os olhos para que ela não visse as lágrimas que por eles caíam.

⎯ Isso são horas de me acordar? ⎯ tentei fazer uma brincadeira para esconder meus verdadeiros sentimentos.

⎯ Você dorme demais às vezes. Sinto-me sozinha ⎯ murmurou ela, como uma criança. Sempre agia dessa forma de propósito, para chamar minha atenção. Alissa era muita coisa, menos infantil.

⎯ Eu gosto de dormir.

⎯ Eu não ⎯ respondeu ela, e fez uma pausa, parando em minha frente. ⎯ Também não gosto quando você dorme demais.

⎯ Desculpe-me ⎯ foi tudo o que consegui dizer. Eu não estava bem o bastante para dar continuidade com qualquer gracinha. Alissa hesitou por um segundo, depois se sentou ao meu lado na cama e suas mãos foram parar em meus ombros. Eu ainda não podia ver seu rosto direito devido ao escuro. Também duvidava menos ainda que ela pudesse ver o meu.

⎯ Não peça desculpas. Eu só queria...

Estar perto de você.

Meu coração palpitou. Fiquei um pouco nervoso com o modo como ele palpitou forte e aceleradamente. Incomodei-me ainda mais com o modo como todo o ar do mundo pareceu insuficiente para meus pulmões. De alguma maneira eu sabia qual era a continuação daquela frase... Eu queria ouvi-la. Eu queria ouvi-la mais do que tudo. Eu precisava ouvi-la.

⎯ Queria o que...?

Ela soltou uma onomatopeia fofa e estranha e de repente seu rosto estava escondido em meu peito. Seus braços envolveram meu corpo e ela se deitou ao meu lado na cama. Senti o seu cheiro adocicado de shampoo e uma estranha característica própria que eu jamais saberia descrever. A mistura era com certeza o melhor cheiro de todo o planeta.

Minha solidão se dissolveu e meu coração se aqueceu. Foi como se cada centímetro de meu ser fosse inundado de calor. Como se o sol tivesse acabado de nascer em meu mundo.

Como se o sol tivesse acabado de nascer em meu mundo.

O sol sempre nascia quando ela estava ao meu lado.

Uma tela surgiu a minha frente. Um nascer do sol maravilhoso no horizonte, repleto de árvores baixas, um garoto e uma garota sentados de mãos dadas. Ela com a cabeça em seus ombros, ele com a cabeça sobre a sua. O par perfeito. Um amor perfeito. O amor que eu sentia por ela.

⎯ Você me parece tão abatido às vezes! Não sei o que eu faço.

Fui tomado por surpresa. Ela percebera?

⎯ Como... assim? ⎯ foi tudo o que consegui dizer.

⎯ Por favor, pare de esconder. Você sabe do que falo. Eu sei... Por mais que acredite que você tem um lado feliz e contente, sei o que está escondendo. Sei de tudo.

Eu não conseguia responder nada. Meus braços envolveram seu corpo pequeno e frágil. Como minha Alissa havia descoberto tudo? Quando?

⎯ Eu já vi várias vezes. Sempre me empenho. Quero vê-lo feliz. Hoje... Hoje estou com medo. Hoje estou triste também. Ansiosa. E sua ansiedade... É pior do que tudo. Quero vê-lo feliz.

Se fosse assim tão fácil...

⎯ Eu gosto muito de você, Seth. ⎯ disse ela de repente, tão tímida quanto uma criança.

E com aquelas simples palavras, a solidão foi embora.

Foi naquele pequeno e brilhante momento que eu percebi. A felicidade era sim fácil. A felicidade estava ali. A felicidade estava naquele momento em que ela me procurava, me abraçava, se preocupava comigo. A felicidade estava nela, meu dia claro. Minha noite que ia embora. O sol que nascia em meu coração. Foi então que soube a intensidade daquilo. O poder daquele amor em mim.

Alissa havia se tornado muito mais do que a pessoa pela qual eu me apaixonara. Ela era minha luz. Uma luz frágil e bela, assim como a lua que, apesar de todo o medo que eu sentia, eu sabia que tinha um brilho mais frágil, às vezes se escondendo, ficando menor. Alissa era assim, frágil em meus braços, como uma lua nova, porém uma lua cheia com seu sorriso e sua maneira de me fazer feliz. Ela era a luz da lua. A luz da lua sem seu caráter assustador. O maravilhoso. Ela era a luz que fazia o sol nascer em meu coração. E de súbito, eu soube que era fácil ser feliz. Minha felicidade era ver o seu sorriso. Era tê-la em meus braços. Era amá-la.

⎯ Obrigado. Obrigado por se importar comigo ⎯ eu disse, tendo que fazer um esforço sobrenatural para segurar as lágrimas de felicidade que apareciam em meus olhos. Odiava chorar na frente dos outros, ainda mais se fossem lágrimas de emoção.

⎯ Sempre vou, Seth. Sempre... ⎯ disse ela com timidez.

Eu dei um beijo em sua testa e afastei os cabelos de seu rosto. Realmente era simples... A felicidade nunca pareceu mais simples. A felicidade finalmente havia ganhado forma própria e ela tinham um nome: Alissa. Minha amada e preciosa Alissa.

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